segunda-feira, agosto 28, 2006
Travis - The Man Who

Tudo estava planejado. De certa forma era mais um dia onde as coisas deveriam seguir seu rumo de forma normal e sem maiores surpresas. O case de cd's com os álbuns de sempre, a primeira roupa que estava à mão, cinco minutos mais cedo eu estava na rua. Céu nublado, cinza, um vento frio, e na cabeça, a insistente Why Does It Always Rain on Me?, do Travis, que acabara de tocar num dos raros momentos de lucidez da MTV - sim, urbanóides ligam suas TV's às 6h da manhã para assistir qualquer coisa que esteja passando.

Um álbum excelente para o início de semana, diga-se de passagem, é esse tal de The Man Who. E eu tenho certeza que desde 1999 não somente eu, mas muitos londrinos e outros cidadãos do mundo compartilham da mesma opinião. O quarteto deu continuidade à qualidade presente em Good Feeling (1997), carregou os violões à tiracolo e derrete suas melodias no vocal leve e intenso de Francis Healy. Writing To Reach You combina com manhãs e abre uma série de petardos sutis, onde não é necessário muito esforço para decorar e cantarolar durante o restante do dia suas melodias. E se citar Writing... para o início do dia me parece justo, o cair da tarde encaixa perfeitamente em The Last Laugh of the Laughter. Uma bateria quase inexistente em algumas faixas como Driftwood divide espaço com a energia conjunta de Turn, e as variações inesperadas que um dia podem trazer são as mesmas que acompanham o disco.

Ônibus cheio como de costume. Dessa vez sequer tive a curiosidade de ler o próximo capítulo do livro que há meses carrego na mala. Algumas curvas depois de me colocar ao lado do motorista, sobem mais algumas pessoas, e ao erguer a cabeça noto que na minha frente descansava à porta uma garota de rosto muito familiar, mas que certamente eu não conhecia.

Olhos claros, rosto arredondado, cabelos negros, e um sorriso pequeno que simplesmente me fez esquecer do barulho do motor, das pessoas ao redor, de tudo. Why Does It Always Rains on Me? não fazia mais sentido naquele dia. Música com gosto de segunda-feira paulista (nossa única diferença em relação ao clima londrino é que às vezes temos sol). Mas assim que involuntariamente agarrei seu braço quando a porta se abriu sem que ela notasse, um leve sorriso surgiu daquele rosto, melancólico e tímido como a capa branca de fotos distantes.

Turn reinaria absoluta em minha mente no restante da viagem. O tempo, que em algumas vezes congelava o mundo quando eu olhava novamente para aqueles olhos acelerou no momento em que me aproximava da descida. Os olhos ficaram pra trás, e fui presenteado com um último sorriso. As cenas de filme que nunca acontecem quando a gente quer, ganham ares ainda mais míticos quando descritas dessa maneira. E assim como pode parecer ao que não acreditam no acaso, nada mais naquela segunda faria sentido.

cotação: ****
para saborear Turn e Why Does It Always Rains on Me?, clique aqui.

escrito por Eddie Cooper || 28.8.06 ||

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