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tem algo entre 25 e 30 anos, e acredita que exista alguma coisa entre o céu e a terra - mas não se atreve a dizer o quê. Não procura nada, mas aproveita-se de tudo o que encontra pelo caminho.

Ávido freqüentador dos botecos, bairros e avenidas paulistas, coleciona música com os olhos, boca e ouvidos em tudo o que encontra pela frente. Não se preocupa mais com idade, roupas ou opiniões alheias, pois estando feliz, estará em casa onde quer que esteja.

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fevereiro 2007
...e de volta pra hoje!

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  segunda-feira, agosto 28, 2006
Travis - The Man Who

Tudo estava planejado. De certa forma era mais um dia onde as coisas deveriam seguir seu rumo de forma normal e sem maiores surpresas. O case de cd's com os álbuns de sempre, a primeira roupa que estava à mão, cinco minutos mais cedo eu estava na rua. Céu nublado, cinza, um vento frio, e na cabeça, a insistente Why Does It Always Rain on Me?, do Travis, que acabara de tocar num dos raros momentos de lucidez da MTV - sim, urbanóides ligam suas TV's às 6h da manhã para assistir qualquer coisa que esteja passando.

Um álbum excelente para o início de semana, diga-se de passagem, é esse tal de The Man Who. E eu tenho certeza que desde 1999 não somente eu, mas muitos londrinos e outros cidadãos do mundo compartilham da mesma opinião. O quarteto deu continuidade à qualidade presente em Good Feeling (1997), carregou os violões à tiracolo e derrete suas melodias no vocal leve e intenso de Francis Healy. Writing To Reach You combina com manhãs e abre uma série de petardos sutis, onde não é necessário muito esforço para decorar e cantarolar durante o restante do dia suas melodias. E se citar Writing... para o início do dia me parece justo, o cair da tarde encaixa perfeitamente em The Last Laugh of the Laughter. Uma bateria quase inexistente em algumas faixas como Driftwood divide espaço com a energia conjunta de Turn, e as variações inesperadas que um dia podem trazer são as mesmas que acompanham o disco.

Ônibus cheio como de costume. Dessa vez sequer tive a curiosidade de ler o próximo capítulo do livro que há meses carrego na mala. Algumas curvas depois de me colocar ao lado do motorista, sobem mais algumas pessoas, e ao erguer a cabeça noto que na minha frente descansava à porta uma garota de rosto muito familiar, mas que certamente eu não conhecia.

Olhos claros, rosto arredondado, cabelos negros, e um sorriso pequeno que simplesmente me fez esquecer do barulho do motor, das pessoas ao redor, de tudo. Why Does It Always Rains on Me? não fazia mais sentido naquele dia. Música com gosto de segunda-feira paulista (nossa única diferença em relação ao clima londrino é que às vezes temos sol). Mas assim que involuntariamente agarrei seu braço quando a porta se abriu sem que ela notasse, um leve sorriso surgiu daquele rosto, melancólico e tímido como a capa branca de fotos distantes.

Turn reinaria absoluta em minha mente no restante da viagem. O tempo, que em algumas vezes congelava o mundo quando eu olhava novamente para aqueles olhos acelerou no momento em que me aproximava da descida. Os olhos ficaram pra trás, e fui presenteado com um último sorriso. As cenas de filme que nunca acontecem quando a gente quer, ganham ares ainda mais míticos quando descritas dessa maneira. E assim como pode parecer ao que não acreditam no acaso, nada mais naquela segunda faria sentido.

cotação: ****
para saborear Turn e Why Does It Always Rains on Me?, clique aqui.

escrito por Eddie Cooper || 28.8.06 || 0 comentando.

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sábado, agosto 26, 2006
Morphine - Cure for Pain

Prometemos meia dúzia de absurdos quando nos conhecemos. Nos primeiros dez minutos, combinamos uma viagem ao redor do mundo. Nos vinte minutos seguintes, falamos sobre o bairro em que gostaríamos de morar quando casássemos. Após uma hora, pensávamos nas crianças brincando perto da horta que cultivaríamos com carinho. Foi então que saímos correndo daquele café, embrulhamos nossos corpos ensandecidos em lençóis alugados e nunca mais nos vimos. Nunca mais. Alguns grandes amores duram apenas um período de três horas no motel mais próximo, simplesmente porque é o suficiente. Se fosse de outro jeito, talvez deixasse de ser um grande amor.

Mas, ainda assim, é bom que se diga que foi mais profundo que centenas de outras experiências que talvez vocês julguem maiores. Mais profundo que qualquer sentimento que exista entre os casais que passeiam de mãos dadas como zumbis pelos corredores dos shoppings. Não existiam amarras, e quando elas não existem, você pode mergulhar sem calcular a profundidade. Quando colocamos os pés naquele quarto, ele olhou sem desvio nos meus olhos e perguntou:

- Você se sente livre para dirigir um filme, cantar uma música ou escrever um livro?

Era a deixa perfeita para lançar Morphine no player. Cure for Pain, de 1993, nasceu para manipular por novas vias as estruturas do rock tradicional. Ainda que Good, lançado no ano anterior, já apresentasse a essência do que era o tal Morphine – uma banda de rock sem guitarras, mas com um inusitado sax no lugar das cordas barulhentas -, foi com Cure for Pain que Mark Sandman e companhia firmaram-se como uma das bandas mais inventivas da década de 90 – quiçá de todos os tempos.

- Se você se chamasse Candy, eu gostaria de ter escrito esta música para você.

O disco que começa com a breve e instrumental Dawna caminha para Buena ainda com uma sonoridade pouco comum, mas já na segunda faixa começa a seduzir inevitavelmente – talvez pela incrível e suave voz de Sandman, ou ainda pelos sons insólitos que explodem da quase minimalista banda. Aos poucos as canções ganham corpo e saltam sozinhas pelo ar. I´m Free Now - a dona do verso sobre liberdade citado acima – é absolutamente perfeita. Mas chega de análises, pois não é preciso fazer um faixa-a-faixa de Cure for Pain: ele anda com as próprias pernas, como se fosse soberano em um universo paralelo onde não existem guitar bands. Antes de seguir adiante, no entanto, é importante citar Candy, uma bela canção de amor nada convencional. O mundo continua precisando de canções de amor, afinal.

- Mas... Se você não se chama Candy, qual é mesmo o seu nome?

Os amores perfeitos são assim. Não se apegam às pequenas convenções da vida – como guitarras ou nomes próprios, por exemplo.

cotação: ****
para saborear Candy e I´m Free Now, clique aqui.

escrito por Nat || 26.8.06 || 1 comentando.

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